Nasceu em Elvas no dia 15 de Fevereiro de 1849 e desde criança manifestou o gosto pela música. Depois de concluídos os estudos no seminário de Elvas, matriculou-se na Universidade de Coimbra, em 1871, e concluiu o curso theologico-jurídico no ano lectivo de 1876/77. Nesse ano, enquanto quintanista de Direito, foi autor de boa parte da música da récita de despedida do seu curso, fez os arranjos orquestrais e regeu a orquestra. Ocupou, desde 1881, o lugar de professor da cadeira de música anexa à Real Capela da Universidade de Coimbra. Em Março de 1888 foi convidado para director da orquestra que viria a ser a Tuna Académica da Universidade de Coimbra e que dirigiu até 1899 (na foto, Simões Barbas-14).
Enquanto jovem, foi exímio tocador de flauta transversal mas a falta de saúde impediu-o de continuar a tocar instrumentos de sopro. Dedicou-se a instrumentos de corda, como o violoncelo, o bandolim e, muito especialmente, a viola francesa. Notabilizou-se, desde 1886, como intérprete de viola e em particular de violão de 11 cordas. Compôs e arranjou música para coro, orquestra, quarteto de violoncelos, flauta e piano, viola/violão de 6, 7 e 11 cordas, etc… Algumas obras foram editadas mas grande parte da sua produção está por localizar.
O nome de Simões Barbas ficou ligado à vida artística da Academia e da cidade de Coimbra. Faleceu em Coimbra, no dia 28 de Março de 1916, vítima de tuberculose pulmonar.
Esta composição, sem título, com indicação da data 25/12/1904, surge numa folha manuscrita encontrada entre os documentos existentes na sua antiga residência de Elvas, pelo bisneto Jaime Dória Cortesão.
A partitura está disponível para descarga gratuita na secção Partituras deste site.
Antonio Jiménez Manjón foi um guitarrista e compositor espanhol nascido em 1866 na cidade andaluza de Villacarrillo, Jaén. Cego desde a pequena infância, começou sua carreira musical aos doze anos, apresentando-se em recitais em Espanha e em Portugal. No nosso país, tocou para o rei D.Fernando II, marido de D. Maria II, conhecido pelo seu apoio às Artes.
(*Em 1854, Ferdinand von Sachsen-Coburg-Koháry havia recebido outro virtuoso espanhol, Trinidad Huerta, a quem este dedicou a Fantaisia “Souvenir de Cintra”)
Logo depois, o jovem Antonio viajou sozinho e com pouco dinheiro para Paris, onde estudou violino no Conservatório enquanto prosseguia a sua carreira guitarrística. Músicos como Gounod, Saint-Saëns e Sarasate faziam parte do seu círculo. Em 1887, Manjón retorna ao seu país natal tendo convidado pelos monarcas espanhóis a apresentar-se em concerto no Palácio Real. Durante esses anos, viajou pela Europa com sua guitarra Torres de onze cordas. Em 1890 passa pelo Porto, Coimbra e Lisboa, tendo sido os seus concertos com a sua mulher, a exímia pianista Rafaela Salazar, divulgados nos jornais portugueses.
Em 1893, Manjón cruzou o Atlântico para as Américas, estabelecendo-se finalmente em Buenos Aires em 1902, após digressões em vários países da América do Sul. Voltará uma última vez à Europa para uma digressão nos anos de 1912 e 1913. Na Argentina, fundou um conservatório e publicou a sua obra “Escuela de Guitarra“. Antonio Jiménez Manjón faleceu em 1919 em Buenos Aires.
A sua obra foi redescoberta nos anos 90, com a publicação de algumas das suas obras, tanto em formato facmisile (por Brian Jeffery, Tecla éditions), como em publicações inéditas a partir de manuscritos (Alan Rinehart, Chanterelle). Algumas das suas obras mais interessantes e conhecidas como “Leyenda” e “Aire Vasco“, foram gravadas por guitarristas de referência, como David Russell ou Raphaela Smits, contribuindo enormemente para a divulgação da sua música.
Euleuterio F. Tiscornia
Uma das fonte dos manuscritos das obras de Manjón é a colecção de Robert Spencer, da Royal Academy of Music de Londres, que foram adquiridos à família do colecionador argentino Eleuterio F. Tiscornia (1879-1945), seu discípulo.
Este bonito prelúdio, originalmente composto para a guitarra de 11 cordas (7+4 flutuantes) que Manjón utilizava, é praticamente desconhecido nos dias de hoje. Eu próprio descobri-o só há poucos anos através de um video de 2011, gravado pela guitarrista Radmila Besic. Contactei a Biblioteca da Royal Academy of Music de Londres, onde se encontra a colecção de Robert Spencer/Tiscornia, e solicitei uma cópia de um manuscrito de um prelúdio, que eu esperava ser este. Hélas, non. Era outro, em Ré maior, que decidi estudar e fazer uma edição, disponível para descarga gratuita aqui, ou no imslp.org. Este prelúdio contrasta um andamento moderado, lírico, como uma romanza, com uma segunda parte absolutamente diabólica, com escalas cromáticas e acordes repetidos e nervosos e um uso dramático das cordas graves.
Contactei enfim a Radmila Besíc para tentar obter a partitura, mas esta já não a tinha em sua posse, porque estaria prevista uma nova edição desta e de outras obras de Manjón, pelo que teve de a devolver logo após o concerto. Esta edição, não se concretizou, pelo menos até agora. Tentei então, a partir do video do seu concerto, transcrever este prelúdio. Curiosamente, poucas semanas depois de terminar a transcrição, encontrei o segundo volume da Escuela de Guitarra e onde jazia a partitura tão ansiada. A minha transcrição estava, de um modo geral fiel ao original, mas com um ou outro pormenor em falta, como as indicações de dinâmica ou expressão, ou algumas vozes interiores. Tal como noutros manuscritos para a guitarra de onze cordas, Manjón usa duas claves para a notação.
Afinação de Jiménez Manjón
Embora tenha sido composto como um estudo para este instrumento, este arranjo para a guitarra de 6 cordas não deixa de capturar a sua beleza original. A versão para 7 cordas não faz quaisquer compromissos em relação original, sendo preservados todos os baixos originais.
A convite da flautista Adriana Ferreira participarei num concerto dedicado à música de Frederico de Freitas (1902-1980) no próximo dia 31 de Março de 2023 no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
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Este recital tem como título “Fado de Cada Um“, tema composto por Freitas para a voz de Amália Rodrigues para o filme “História de uma cantadeira” (Perdigão Queiroga, 1947). Com a flauta de Adriana como protagonista, levaremos o público a diferentes facetas da música de Frederico de Freitas, compositor erudito que se moveu em estilos musicais tão diversos, como a música de câmara, o concerto solista, as canções com piano, a Ópera até ao teatro musical ligeiro, ao vaudeville, à Revista, e claro, ao Fado, mote do recital.
Dividido em três partes, a primeira será constituída pelas Seis Canções Trovadorescas com o piano de Isolda Crespi Rubio.
Seis canções trovadorescas
Ay! Louçana …E desde entom sempre penei Par Deus, mia madre, irei Leda m’andeu E sabor hei da ribeira Ay Deus, val!
A parte central do recital assenta em Fados e canções que Frederico de Freitas compôs para o cinema, nomeadamente para primeiro filme sonoro português “A Severa“, de Leitão de Barros (1931) e o incontornável “Pátio das Cantigas” de Francisco Ribeiro (1942).
Embora as partituras de alguns destes fados – publicadas ou manuscritos, quase rascunhos – tenham sido escritos para piano e voz, serão apresentadas na formação tradicional com guitarra portuguesa e viola, com os arranjos meus e do meu velho amigo Nuno Dias, num suporte harmónico e estilístico para a flauta da Adriana Ferreira.
Anéis do meu cabelo Cantiga nova Velho Fado da Severa Fado da espera de toiros Novo Fado da Severa (Rua do Capelão) Não me peças mais canções Fado triste Primeiro fado Canta, canta Fado de cada um
De Napoléon Coste (1805-1883), compositor e guitarrista francês, três das suas peças. Dois dos seus estudos op.38, e “Le Zuiderzée op.20”, da série Souvenirs – Sept Morceaux Episodiques. O prelúdio inquieto desta peça lembra as inundações provocadas pelas tempestades no mar dos Países Baixos e que contrasta com o carácter alegre de danças populares. Ou que a tempestade precede a bonança, num ciclo eterno.
Nos próximos dias 16 e 17 de Dezembro terá lugar o VII Seminario Internacional de Guitarristas, com músicos da Colômbia, Equador, Chile, Venezuela, Brasil, Itália e Portugal.
Os recitais serão transmitidos no Canal de YouTube da Fundación Zapico e na sua página do Facebook.
A minha participação neste evento online ocorre na próxima quinta-feira dia 16 de Dezembro, e será partilhada com a guitarrista equatoriana Nataly Osorio e o venezuelano HugoQuintana.
Todos recitais serão estreados às 23 horas, hora portuguesa.
O meu programa inclui obras de Leonard Schulz, William O. Bateman, Ernest Shand e Napoléon Coste.
Continuando a descobrir a beleza escondida do riquíssimo repertório da guitarra russa de sete cordas, eis um pequeno estudo de Nikolai Ivanovich Alexandrov/Николай Иванович Александров (1818-1885) (1884 no calendário juliano). Extraído do seu caderno de exercícios e prelúdios, o nº10 em si menor.
Na próxima 4ª feira, 19 de Maio, tem inicio o IARGUS 2021, um festival internacional dedicado à Guitarra Russa de 7 cordas, que costuma ter lugar em Iowa City, EUA. Tal como no ano passado, devido à pandemia, será em versão online, com participantes da Rússia, EUA, Suécia, Alemanha, Noruega e Portugal.
Haverá concertos, conferências e classes magistrais. O programa completo está no endereço:
O concerto em que participarei (20.5.2021, 19h em Portugal Continental), com o tema “Guitarra Russa na Europa Ocidental”, terei como companheiros os amigos Mårten Falk e Stefan Wester (Suécia), Marko Erdevicki (Noruega/Sérvia) e Maxim Lysov (Rússia/Alemanha) –
Servirei uma salada de música russa e portuguesa. Apareçam.
No Verão do ano passado iniciou-se um projecto “pandémico-colaborativo” dirigido pela guitarrista e investigadora holandesa Jelma van Amersfoort dedicado a uma obra para quarteto de guitarras de Antoine de Lhoyer (1768-1852) – Air Varié et Dialogué, interpretado em instrumentos históricos por músicos de vários países – Canada, Rússia, Reino Unido, Dinamarca, Itália, Mexico, Holanda, EUA e Portugal. Gravado em pequenos excertos durante alguns meses foi editado por Jelma van Amersfoort e Ben Stuyts.
Alexander Dunn http://www.alexanderdunn.ca guitars: anonymous French c. 1830, Miodrag Žerdoner after Stauffer
Chris Susans soundcloud.com/chris-panormo-player guitars: anonymous Mirecourt c.1850, George Lewis Panormo, London 1855
Karel Arnoldus Craeijvanger (Utrecht, 1827-1868) foi um compositor, cantor, violinista e guitarrista holandês. Apenas duas das suas obras para guitarras são conhecidas, os Trois Nocturnes e Introduction & Variations sur un thème de l’ópera Freischütz (Weber). Ambas as peças fazem parte dos arquivos do Nederlands Muziek Instituut. Uma terceira peça, mencionada num programa de um concerto em 1865, Fantasia sobre um lied de Schubert, permanece desconhecida.
Os Trois Nocturnes, compostos e dedicados a Monsieur J. de Beyer, foram publicados pelo próprio Craeyvanger. Talvez por ser uma edição do autor, o aspecto gráfico da publicação original é de fraca qualidade, pouco cuidada, com alguns erros e inconsistências.
Depois de ouvir estas obras na sua primeira gravação pelo guitarrista Fernando Riscado Cordas no seu magnífico CD/Livro “The Poetic Guitar” (2014), solicitei uma cópia ao NMI, para fazer uma edição clara e moderna para o meu próprio uso. Os pequenos erros foram corrigidos e todas as digitações são editoriais. As marcas 8vb, destinadas a uma guitarra com baixos adicionais não são originais e são, portanto, opcionais.
Embora já tenha feito esta edição há mais de três anos, só agora decidi publicá-la, depois de a gravar para o VI Seminario Internacional de Guitarristas, na Colômbia (online, infelizmente…) Está disponível na secção “Partituras” do site.
Na próxima semana de 19-24 de Outubro, terei o prazer de participar no II Congresso Latinoamericano “La Guitarra del 1800”, organizado pela Asociación Argentina de Laúdes y Guitarras Antiguas. Com a participação de boa gente da Argentina (Gabriel Schebor, Silvia Fernandez , e Marcos Pablo Dalmacio), México (Gilberto Ramírez Lucero e Luis Diaz Santana), Brasil (Max Riccio e Guilherme de Camargo), Colômbia/Chile (Andres Zapico Maldonado), Inglaterra/Brasil (Fabricio Mattos). Irei falar de um obscuro compositor e virtuoso guitarrista austríaco, Leonard Schulz. Terá lugar no próximo dia 20 de Outubro, pelas 20h (Portugal) e 16h em Buenos Aires. Um recital será também estreado no dia 21 no canal de Youtube da AALGA e divulgado a seu tempo por aqui. A inscrição é gratuita e poderá ser feita no link abaixo.