Recital no CCB com Adriana Ferreira, Isolda Crespi Rubio e Nuno Dias

A convite da flautista Adriana Ferreira participarei num concerto dedicado à música de Frederico de Freitas (1902-1980) no próximo dia 31 de Março de 2023 no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

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Este recital tem como título “Fado de Cada Um“, tema composto por Freitas para a voz de Amália Rodrigues para o filme “História de uma cantadeira” (Perdigão Queiroga, 1947). Com a flauta de Adriana como protagonista, levaremos o público  a diferentes facetas da música de Frederico de Freitas, compositor erudito que se moveu  em estilos musicais tão diversos, como a música de câmara, o concerto solista, as canções com piano, a Ópera até ao teatro musical ligeiro, ao vaudeville, à Revista, e claro, ao Fado, mote do recital.

Dividido em três partes, a primeira será constituída pelas Seis Canções Trovadorescas com o piano de Isolda Crespi Rubio.

Seis canções trovadorescas

Ay! Louçana
…E desde entom sempre penei
Par Deus, mia madre, irei
Leda m’andeu
E sabor hei da ribeira
Ay Deus, val!

A parte central do recital assenta em Fados e canções que Frederico de Freitas compôs para o cinema, nomeadamente para primeiro filme sonoro português “A Severa“,  de Leitão de Barros (1931) e o incontornável  “Pátio das Cantigas” de Francisco Ribeiro (1942).

Embora as partituras  de alguns destes fados – publicadas ou manuscritos, quase rascunhos – tenham sido escritos para piano e voz, serão apresentadas na formação tradicional com guitarra portuguesa e viola, com os arranjos meus e do meu velho amigo Nuno Dias, num suporte harmónico  e estilístico para a flauta da Adriana Ferreira.

Anéis do meu cabelo
Cantiga nova
Velho Fado da Severa
Fado da espera de toiros
Novo Fado da Severa (Rua do Capelão)
Não me peças mais canções
Fado triste
Primeiro fado
Canta, canta
Fado de cada um

Flauta Adriana Ferreira
Guitarra portuguesa Nuno Dias
Guitarra clássica Rui Namora

Transcrição do “Fado Triste”, tema do Pátio das Cantigas – clicar para ouvir versão original

Por fim, o concerto encerra com o Allegro vivo do Concerto para f lauta, obra de 1954, novamente com Isolda Crespi Rubio ao piano.

Festival RURIK 2020 (Suécia)

Entre os dias 12 e 15 de Junho de 2020, a localidade de Mellösa, na Suécia, vai acolher o primeiro festival europeu dedicado à Guitarra Russa de 7 cordas, o RURIK, organizado pelo guitarrista Mårten Falk. Durante esses dias, guitarristas vindos da Rússia, EUA, Noruega, Rússia, Suécia e Portugal  reunir-se-ão para divulgar o instrumento. O festival terá uma forte vertente pedagógica, com palestras, cursos e recitais, e cujo objectivo é a divulgação do repertório do instrumento junto dos (ainda…) guitarristas de 6 cordas que ainda não se converteram.

Há cerca de um ano, movido pela curiosidade e por uma guitarra de 7 cordas talvez cansada da sua afinação, comecei a dedicar-me a este instrumento (ver detalhe aqui). Depois de olhos trocados por teimosas notas em trastes diferentes, e idas ao tradutor da Google para decifrar títulos em cirílico, fui descobrindo algumas das suas idiossincrasias técnicas e estilísticas. Fui incentivado por músicos que admiro e tenho como referência, como o já referido Mårten e pelo Oleg Tymofeyev, que é, sem dúvida, o maior especialista mundial nesta área.

Para minha surpresa fui convidado pelo Mårten para participar neste primeiro festival. Levarei na bagagem alguns compositores russos, bem como transcrições de peças dos Paredes, que retratam bem que as almas russa e portuguesa, apesar de nos extremos da Europa, têm muito em comum.

António Marinheiro, de Carlos Paredes

António Marinheiro” é uma das minhas peças predilectas de Carlos Paredes.
Composta para a peça de teatro homónima de Bernardo Santareno (1967) (António Marinheiro – O Édipo e Alfama) ganhou vida própria através do disco “Movimento Perpétuo”, e claro, pelas mãos dos guitarristas que a mantêm viva.
Adaptada à Guitarra Russa de 7 cordas, mantém uma ressonância estranhamente próxima. Apesar da distância, um antepassado comum une estes dois instrumentos – a cítara, cuja afinação em terceiras a guitarra russa herdou e mantém, e a guitarra portuguesa, que para além dos aspectos organológicos óbvios, a desenvolveu.
António Marinheiro é a primeira de cinco peças de Paredes que transcrevi. A música de Paredes, apesar de profundamente portuguesa, tem uma força anímica única que ultrapassa os estereótipos fáceis da melancolia lusa.