Festival RURIK 2020 (Suécia)

Entre os dias 12 e 15 de Junho de 2020, a localidade de Mellösa, na Suécia, vai acolher o primeiro festival europeu dedicado à Guitarra Russa de 7 cordas, o RURIK, organizado pelo guitarrista Mårten Falk. Durante esses dias, guitarristas vindos da Rússia, EUA, Noruega, Rússia, Suécia e Portugal  reunir-se-ão para divulgar o instrumento. O festival terá uma forte vertente pedagógica, com palestras, cursos e recitais, e cujo objectivo é a divulgação do repertório do instrumento junto dos (ainda…) guitarristas de 6 cordas que ainda não se converteram.

Há cerca de um ano, movido pela curiosidade e por uma guitarra de 7 cordas talvez cansada da sua afinação, comecei a dedicar-me a este instrumento (ver detalhe aqui). Depois de olhos trocados por teimosas notas em trastes diferentes, e idas ao tradutor da Google para decifrar títulos em cirílico, fui descobrindo algumas das suas idiossincrasias técnicas e estilísticas. Fui incentivado por músicos que admiro e tenho como referência, como o já referido Mårten e pelo Oleg Tymofeyev, que é, sem dúvida, o maior especialista mundial nesta área.

Para minha surpresa fui convidado pelo Mårten para participar neste primeiro festival. Levarei na bagagem alguns compositores russos, bem como transcrições de peças dos Paredes, que retratam bem que as almas russa e portuguesa, apesar de nos extremos da Europa, têm muito em comum.

António Marinheiro, de Carlos Paredes

António Marinheiro” é uma das minhas peças predilectas de Carlos Paredes.
Composta para a peça de teatro homónima de Bernardo Santareno (1967) (António Marinheiro – O Édipo e Alfama) ganhou vida própria através do disco “Movimento Perpétuo”, e claro, pelas mãos dos guitarristas que a mantêm viva.
Adaptada à Guitarra Russa de 7 cordas, mantém uma ressonância estranhamente próxima. Apesar da distância, um antepassado comum une estes dois instrumentos – a cítara, cuja afinação em terceiras a guitarra russa herdou e mantém, e a guitarra portuguesa, que para além dos aspectos organológicos óbvios, a desenvolveu.
António Marinheiro é a primeira de cinco peças de Paredes que transcrevi. A música de Paredes, apesar de profundamente portuguesa, tem uma força anímica única que ultrapassa os estereótipos fáceis da melancolia lusa.